quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Incerta vez flagrei uma menina sonhando na praia.



Estou pensando em por a culpa nesse sol escaldante. Perdão, mas este aqui não sou eu. Certo que estava em casa, ocioso, e que agora, graças ao tão pomposo "Astro Rei" (!), estou aqui. Melando meus pés de areia, me queimando feito um condenado. Vocês já viram a minha pele? É alva feito um sorvete de coco. E capaz de se derreter tal qual.
Não fui feito para esse clima daqui. Sou descendente direto da linhagem nórdica. De avô sueco. O que faço debaixo dessa bola de fogo, com os glúteos postos sobre grãos de brasa?
De antemão digo que, não adianta, não entro nem em piscina. Por mais rasa que seja, tenho medo de me afogar. E não me imagino nem molhando os pés na baba desse mostro Oceano.
Tem mais! Homem já é animal de sangue quente. Não tem o porquê dessa "reptilidade" toda... A necessidade de forrar a areia com uma canga e passar o dia estirado. Ainda mais ouvindo o rugido de mar, violento. Isso é paz?
Bem, mas estou aqui. Culpa do sol. Não vou fazer mais reclamações. Ainda bem que trouxe meu livro... "Há algo de QUENTE no reino da Dinamarca". Meu Deus! Me ajude. Esses dois olhos azuis que o senhor me deu, Deus, desculpe, mas estão dificultando a leitura. Se eu coloco os óculos escuros, não posso colocar os de grau. E esse papel consegue ser mais branco do que minha pele, sua branquidão parece espetar a alma...
Para tudo. O que é isso?
Delicada como um floco de neve. Suavemente escorrendo pelas areias. Ergue sua toalha e o vento, que até então não existia, faz questão de soprar. Essa brisa alpina, que agora brinca com os longos cabelos dela. Qual deve ser seu nome? O que faz nesse inferno? Qual foi o seu pecado? Deita-se sobre a canga azul. Sozinha. Dorme.
A praia, de repente, fica deserta. O mar acalma sua fera. Me vejo, um passo a frente de mim, se aproximando dela. Meus pensamentos são tão indecentes que o sol se esconde atrás das nuvens.
Doce. Ela é tão doce. Perdão, querida, posso me sentar ao seu lado? Seu olhar é confuso, sonolento e seguido de um leve sorriso. Ela se senta. Fazemos um voto tácito de silêncio, enquanto observamos o mar mudar de cor. É lindo. Ele está brincando de nos imitar. Nós, dois camaleões na praia - do branco da cidade ao vermelho das areias. Nos camuflando.
Estou sonhando? Não sinto mais calor... Ela me responde que não, não estou sonhando. E até me belisca no tórax, me fazendo cócegas. Estou sonhando? Ela me diz que não, não estou sonhando. E até me empurra o tórax, me fazendo rir. Ela me diz que NÃO, NÃO ESTOU SONHANDO! E até me dá uma massagem cardíaca em meu tórax, me fazendo acordar. Ainda na ambulância.
Insolação: culpa do sol.