Espirro
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
.^^^/
vaza início do projeto inacabado, mal começado
favor não divulgar,
curtir ou falar disso.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Trovoada
Milhões de pingos paraquedistas nesse céu nublado. Inunda o Recife e o povo daqui é daqueles que se abriga e corre com medo; enquanto o sertão ainda torra numa seca desgraçada que emenda uma na outra e lá se vai mais um ano com aquela mesma pedra de sal na janela. Aqui chamam o tempo de tenebroso. Quilômetros cúbicos de água doce desabando de graça na cidade, alagando ruas, quebrando sinal, cobrindo calçada, derrapando barraco...
Pergunto ao asfalto impermeável e às valas cheias, pra onde tão levando essa água toda? Não basta esse desperdício de pedra e piche, onde nada se planta. Vai a mão e arranca o capim entre o concreto. Não basta esse tapete preto feito para cuspir fumaça e arder nos dias quentes. Pra onde tá levando essa água boa?
Pra se misturar com bosta, é isso? Cair no canal, correr no mangue, passar no esgoto e do rio pro mar. É bom perguntar aos telhados das casas, ao cume das torres, àquelas calhas ligadas feito bicas. Cês sabem que lá nas brenhas, lá pra dentro, onde a memória se corta de espinhos, as cisternas do governo tão cheias de eco; ocas casas de aranha cheirando a poeira.
Tá na hora do Capibaribe correr ao contrário, acha não? Levar em canos essa água muita...
Pois desde hoje que o som é de cachoeira. A gente sem querer se molhar. Já caiu mais de três São Franciscos, falta cair o barco, a carranca e o barqueiro. A nuvem não quer se chegar pra lá? Aqui todo mundo reclama. Lama destrói, lodo escorrega, carro boia, coisa dá choque, não tem mais aula... Bem, uma coisa boa...
O asfalto - desculpa falar de novo do asfalto - o asfalto cede nessa terra de mangue, faz cratera que parece início de fim de mundo. E o povo ainda lembra de setenta, achando que Tapacurá vai explodir, que vai perder a geladeira...
Pois pronto, então faz um teto fumê em cima disso tudo, pessoal vai gostar. Usa os prédios como pilares, escoa tudo pra onde merece.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Tagarela
Língua mole,
fale,
rebole,
trepide
entre os dentes,
lamba as letras,
e
descanse
um pouquinho
aí em baixo,
isso...
antes que venha alguma
ou qualquer coisa,
quem sabe
um assunto
pra tu trabalhar pra caramba, maluca
---
*Recomenda-se ler em voz alta e língua obediente
terça-feira, 30 de abril de 2013
Auto mar
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Tom ion ioin
obama,
kim e o papai
doidos da vez
bando de molas torpes
em tudo que é canto
bem moles vão toin
na cabeça
e bum la no chão
tal qual ioiô
que torna de volta
na palma da mão
do dono do jogo, pergunto
quique tem eu com a
coreia do norte e
os eua, lá vem,
sou eu e a
babaca
doença
caída
do
s
out
rrr
s
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Labirinto
buscando, cade?
já desprendi
pé sem ta no chão,
mão sem ta em ti
o cabra pressente essas coisas
bater de cara com um labirinto
três mil entradas, uma só saída
negócio
é fechar os olhos
ir sacando o cheiro
fuçar cada portão
postar a mão no muro
dedos deslizando
cego em pasmaceira
não levar novelos
e já que tem pombo
é bom poupar o pão
parede gelada
textura de pedra
com trepadeira
concreto entre
prego batido
se te espetar
um espinho da rosa,
sugue o sangue
com o bico da boca
e espie a flor
com um olho só
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Topada
tem gente
sabendo um bocado
mas no geral, nós,
o destrambelhado
sujeito do acaso -
meramente,
assustado,
topando futuros
e arrombando a ponta do dedão do pé,
metendo com a cuca na quina,
testa no galho,
tá! no batente
canela que tei! na mesa de centro...
aperto que lateja, cala,
confirma
toda
existência
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Veneno
Acordou tossindo alto
botou a mão e sentiu pulsar
uma dor no pescoço
olhou no espelho:
vermelha
e rubra
Mordidas simétricas feitas
por um casal de mosquito
bebendo e amando-se
na nuca
toda madrugada
um tinto gelado,
bafinho quente,
ronco esquisito,
zumbindo no oco do ouvido
Foi quando acordou preocupado
engasgando no espelho
Dois pontos vermelhos!
doídos,
picada de serpente
finas agulhas e
o queimar do veneno
- placebo no sangue -
passou o dia tonto, prostrado,
pensando que fosse morrer
segunda-feira, 25 de março de 2013
Professora
segunda-feira, 18 de março de 2013
Procura-se emprego
direitos dos Beatles,
iate, helicóptero, Ferrari, avião,
---
*para Totó
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Notícia
E vinha bufando, narinas fervendo. Soprando tão forte, que os fios do bigode espalhavam no rosto e se dividiam a cada tufão. Este é o mais velho, foi o último a chegar com a notícia entalada.
Os outros dois, imberbes, tinham escutado a respiração de longe. O irmão cansado, camisa encharcada, pernas tremendo, coçando um sangue que não costumava mais circular naquela velocidade.
Sol na moleira! Ar de secar garganta. Tentou respirar só pelo nariz. Botou na cabeça que quando abrisse a boca falaria de vez.
De longe via os dois irmãos, bem pequenos. E quando a angústia dava um nó no estômago ele apressava mais o passo. Olhava para o campo de futebol de areia quase vermelha. Pensou ter visto uma cachorra cruzando o jogo, atrapalhando a bola. Abriu a boca sem voz. Trouxe o ar empoeirado de uma vez pra garganta. As pedrinhas caíram pela traquéia e ecoaram nas paredes do pulmão.
Os irmãos notaram como estava vazio de força. Pernas bambas. Vinha chegando de olhos baixos.
Por um acaso os dois estavam ali juntos. O do meio veio falar com o mais novo, que sabia onde Dorinha estava. Mas antes de qualquer resposta, emudeceram olhando o mais velho vir correndo daquele jeito.
Dorinha não aguentou, ele disse, sem fôlego. E ninguém falou nada. O mais novo catou alguma coisa que pudesse dizer, sem que a fala o derrubasse em lágrimas. Ensaiou ''quan...'', no que o mais velho respondeu seis. O mais novo sorriu. Ela deu seis filhotes.
E como são? Perguntou o do meio.
Todos engraçadinhos.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Bicicleta, o cão
Não foi nada, tá vendo? Não foi nada...
Vou passar madrugada escrevendo.
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*Em luto às mortes dessa semana.
sábado, 8 de setembro de 2012
Festa
Papai tem uma fazenda, num fim de mundo. Sequidão e calor dos infernos! Um nada pra fazer gostoso, um sem compromisso, sem barulho, cheiro de terra, cheia de bicho...
Não perdi nada lá! (Mamãe urrava).
Foi quando papai comprou um balão. Cabiam quatro pessoas, no máximo, estourando. E esse negócio estoura? Nossa família, contando comigo, dá seis.
E ainda nem cabe todo mundo! (Mamãe rangia)
Alguém precisa ficar em baixo para fotografar, papai falou. Mamãe não sabe fotografar coisa nenhuma e disse também morrer de medo de altura, que ideia!
Uma coisa, porém, ela se animou. Posso, é? E foi acender o bicho, posso mesmo, né? O balão fez que foi e não foi. Fez que foi e não foi.
Da ponta do isqueiro, uma brasinha pulou solta, bateu em um galho seco, passou perto da rã, que pulou empurrando a pedrinha de calor... A brasa rolou até parar na lona vermelha, quase cheia.
Tá queimando, tá queimando! Queimou! Espalhou fogo na caatinga, matou cinco vacas, abriu uma clareira. Acabou-se balão. Acabou foi tudo... Papai furioso, apagando o incêndio com lágrimas de raiva. Uma sequidão e calor, pior que os infernos.
Churrasco para todo mundo! (Mamãe sorria)
E foi uma grande festa na fazenda.
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*para a baloneta.
sábado, 1 de setembro de 2012
A briga
O bem e o mal... Certo errado... Não sei.
Criamos os filhos para que eles comecem a protestar um pouco contra nós mesmos. Era sobre o que o danado desse protesto?
O trânsito não para todo dia?
duzentoscleta,
centicicleta,
***
Essa pode!
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*Para a bicicletada do dia 31.08.12
sábado, 18 de agosto de 2012
Jairo imóvel
O nome dele é Jairo. E o seu joelho é uma articulação falida, igual ao braço da janela enferrujada. Estacado, reclama uma dor aguda.
Televisão ligada. Não consegue escutar direito as notícias. Pode ser propaganda, e não perde nada se for.
Quando o pulmão respira, o joelho de Jairo range no lugar, um rangido demorado. O médico diz que não tem mais quase nada entre os ossos. É osso no osso, e o pobre aperta os dentes. Tem algo importante na tv.
É arriscado virar o pescoço.
Da televisão, só enxerga a luz. Parece que instalou uma discoteca dentro de casa. Como o volume está baixo…
Eita! Hoje tem futebol? Faz tempo que não acompanha, só sabe dizer dos jogadores que aparecem muito como Neymar. Jogador completíssimo, no seu critério. Faz muito mais do que Pelé já fez. Neymar dança, faz propaganda de shampu, celular, é ator, modelo, aparece em clip de pagode, faz uma música fazer sucesso. Um jogador completo. Pelé fez o que? Um disco?
Quando era pequeno foi o primeiro a se inscrever para o papel de José, no auto natalino. Posição importante na cena. Pai do personagem principal, que seria um bebê, provavelmente um boneco.
Não, foi um bebê mesmo. Que chorou a peça inteira.
Assim que recebeu a roupa de José, pegou o script e não tinha uma fala sequer. Reclamou, fez birra e ganhou uma linha. Uma linha? Achou pouco. Mas fez. Bateu o pé de raiva e disse em voz balbuciada.
Eis aqui o filho de Deus.
Que revolucionário, pensava agora. José nazareno assumindo a não paternidade do seu filho célebre. Talvez para barganhar o ouro e as outras especiarias dos reis, quem sabe. Filho meu coisa nenhuma, filho de Deus! E tome ouro, mirra, e tome incenso. Mas aquela raiva imprimiu um certo desconforto de José na cena. Uma vontade secreta de ser o pai verdadeiro daquele ser calorento, cheio de catarro, que tirava a atenção de Maria para ele.
Maria era Giovanna. Uma graça de menina.
Mas por que isso agora?
Sim! Lembra que passava a peça inteira como uma estátua de presépio. Ajoelhado em um chão lindo, um azulejo formado por mosaicos. No final dos ensaios, os mosaicos ficavam marcados nos joelhos avermelhados. Uma dor latente, que só a presença de Giovanna fazia suportar.
No dia da peça, levou joelheiras por baixo do manto. Toc, toc, quando ele se ajoelhou e sorriu no canto da boca.
Uma estátua de presépio. Hoje está mais para o Homem Caminhando, de Giacometti, que viu na Pinacoteca de São Paulo.
Uma coisa mais moderna, um passo inconcluso.
Não sabe, não lembra do que foi fazer ali. Talvez verificar o braço da janela. Tentar ver se consertava com óleo, alguma coisa.
A campainha toca.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Chuva de menino
Tomara que chova bem forte,
que a chuva engrosse,
que tome o telhado,
que forme um lago,
emposse as ruas
e em duas braçadas
o menino, a nado,
saia da janela
se jogue no ar.
mergulhe nas nuvens,
dando rasante,
torcendo bastante
pra não estiar
Uma tartaruga
vista de baixo
é peixe palhaço
de guarda chuva
A alga marinha,
largada peruca,
que a sereia careca
sequer quis provar
Tomara que chova bem forte,
que a chuva engrosse,
que o céu vire mar.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Vantagens mil
quinta-feira, 7 de junho de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Violão
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Os reis
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Versão musicada por Maurício Oliveira:
segunda-feira, 28 de março de 2011
Vácuo
A brisa passou e roubou a memória dela. Um vácuo de um ônibus que, martelando o ar, levou o cabelo a voar na fumaça escura. Foi só o tempo de fechar os olhos e pronto, não sabia mais de nada.
domingo, 13 de março de 2011
Entre a chuva e a fumaça
Havia se estabelecido uma certa rotina no corpo de bombeiros. Em tempos chuvosos a televisão costumava ficar ligada, os militares, menos arrumados. O batalhão reduzido não precisaria se preocupar com as matas secas que margeavam a cidade, mas com as casas sim: as casas ainda pegavam fogo esporadicamente. Foi o chamado. Os soldados correram organizados. A notícia veio chegando no caminho. A chuva tinha dado uma trégua, mas sem problemas, chuva não costuma apagar edifícios.
Dez andares, o fogo vinha do quinto e se estendia entre o sétimo e o terceiro. Uma só vítima. Solteiro, fumante, provável causador do incêndio. O clarão se apagava, as mangueiras eram guardadas, a imprensa ainda tinha pego algumas cenas emocionantes: das pessoas chorando de pijama, cobertor e um casal com roupas de couro. Apenas uma pessoa não foi resgatada com vida, a reporter anunciava.
O dia não tinha sido paciente com ele. Marcos não sabia o motivo, mas não conseguiu fazer nada direito. Tanto no trabalho, manchando a camisa com café, quanto em casa, na cozinha, deixando queimar o ovo na panela. E não comeu mais nada. Ao anoitecer, chovia forte. Teimando que algo desse certo, resolveu ir ao cinema.
A chuva era densa. Somada a uma grossa neblina. A praça ao lado estava escura, os postes se revezavam entre acesos e apagados; outros piscavam numa frequência incerta.
Na rua, viu um homem encostado no muro de uma casa. Fumando. Um vulto. Mudou de calçada.
O som da água só lembrava o medo, de quando era menor e morava no Alto de Santa Teresa: ao primeiro alarido da chuva, sua mãe o abraçava com força, segurando um rosário.
Os degraus da entrada do cinema molhados, a água escorria até o bueiro, que, entupido, enchia a rua com um líquido suspeito. Embora chovesse, a fila era grande. Pessoas aglomeradas se esbarravam com seus guarda-chuvas e sombrinhas. Marcos, de capa, olhava para trás de vez em quando até o momento em que entrou, finalmente, no cinema, os sapatos e a barra da calça encharcados.
Na poltrona, desejou muito fumar, mas não podia. Esperou ansioso o momento de voltar para casa. Esse homem estranho na trama, acho que é um assassino, comentava a senhora ao lado. Marcos respondeu com um olhar e um pigarro. Mesmo não prestando atenção ao filme, o comentário da velha lhe causava calafrios.
Ao acender das luzes, sentiu-se mais aliviado. Não chovia mais. A rua deserta e molhada o fazia sentir angústia. Teve medo de que, se escorregasse no lodo, não pudesse ser socorrido por ninguém. Voltou para casa. Não adiantava mais insistir.
O despertador soava mais alto. Amanhecia de uma forma estranha. Fazia calor. Por baixo da porta, já se via a claridade invadindo o quarto. Com a mesma roupa, bateu com a mão no despertador, que não parou de tocar. Não parou, pois nem chegou a começar. O cheiro de fumaça agora lhe dizia tudo. E o calor invadia seu corpo.
Do lado de fora do prédio, correu pela escada de emergência. Os vizinhos gritavam, choravam, alguns estavam nus, outros de cobertor, pijama, cueca, e um casal em roupas de couro.
Ainda era noite.
O fogo, impiedoso, não escutava ninguém. Marcos, sozinho, calado, botou as mãos nos bolsos, jogou fora a chave de casa e a carteira. Seguiu andando pela rua.
Encostou-se em um muro de tijolos e lodo aparentes. Acendeu um cigarro.
A chuva voltou a cair.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Triste fim
-Eu te amo.
-Você está ficando velho, Tito. EU estou ficando velha... Preciso ao menos dar um tempo.
domingo, 30 de janeiro de 2011
Almoço
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
O pássaro também vermelho
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Espelho
Ela era uma espécie de espelho sincero para dele. Penteando o cabelo, percebe. Mal consegue se olhar. Seu corpo é estranho, a flacidez, textura, tudo é sem jeito, inconcluso, incompleto. E as semanas têm se passado assim: igualmente inconclusas, incompletas, flácidas, sem jeito...
Com muito mal gosto.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Sopro
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Filme com Ceceu Valença: http://www.youtube.com/watch?v=em1_Zdk0C5E